20 agosto 2008

Salutar transparência

Ao contrário da Secretaria de Segurança Pública paulista, que resolveu engavetar uma ampla pesquisa realizada a partir de 2005 sobre vitimização, a pasta do Rio acaba de divulgar os resultados de uma consulta sobre o mesmo tema, empreendida pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), o núcleo da polícia do Rio dedicado a estudos sobre a criminalidade e suas vertentes. O compêndio alinha algumas conclusões que se não chegam a surpreender, assustam: das 4.553 pessoas entrevistadas, parcos 0,4% das pessoas ouvidas disseram confiar na Polícia Militar do Rio. Outros 36% afirmaram confiar em parte, enquanto 56,1% admitiram que não se sentem confiantes ante a um policial fardado.

São dados que se não eram conhecidos de forma oficial, já eram sentidos na relação cotidiana entre o cidadadão e o chamado "comando azul". Afinal, qual de nós, numa madrugada fria do Rio, ao se deparar com uma blitz da polícia na rua, não se sente inseguro, com medo?

O Estado é o culpado. Tamanha afirmação pode parecer injusta, açodada, mas reflete o sentimento da esmagadora maioria das pessoas. Os responsáveis pelo recrutamento dos aspirantes a agentes da lei irão se apressar em rebater, afirmando que "os policiais não são recrutados no planeta Marte, muito menos na gélida Noruega, mas sim entre a sociedade em que nascemos, crescemos e vivemos".

Tudo bem, a observação não deixa de ter sua lógica. No entanto, os mecanismos do Estado para identificar aqueles que não reúnem o perfil ideal para a missão se mostram frágeis e débeis. A verdade é que a sociedade brasileira, em especial a fluminense, em que pese confiar muito pouco na sua polícia, é a primeira a recorrer a um policial mais próximo quando se sente ameaçada ou lesada.

Nada mais natural é logico.

Enquanto a polícia remunerar mau seus integrantes, enquanto a qualificação for relegada a um plano secundário, o interesse em vestir a farda azul ficará restrito àqueles que, sem opção num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, vêem na polícia a oportunidade de alcançar uma estabilidade que a baixa remuneração por si só não é capaz de desestimular.

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