21 dezembro 2008

Quem pode, pode

Imagine o multimilionário da mineração Eike Batista caracterizado de mendigo, perambulando pelas ruas do Centro a pedir esmola com as mãos estendidas. Ou então pense como seria o empresário Antônio Ermírio de Moraes, dono da gigante do cimento Votorantim, carregando um pandeiro com a mão espalmada, pedindo uns trocados com o seu grupo de pagode aos clientes sentados ao redor de uma mesa de bar na Praia de Copacabana.

Na Rússia pós-comunismo, os milionários estão buscando uma forma alternativa de dar um sentido às suas vidas, para fugir do tédio provocado pelo turbulento e concorrido mundo dos negócios. Muitos deles têm contratado os serviços de uma empresa especializada em entretenimento. Isso mesmo. Quem tem dinheiro na Rússia, ou melhor, muito dinheiro, não economiza na hora de contratar o serviço, seja para se passar despercebido como mendigo nos arredores de Moscou ou servindo um sanduíche numa típica lanchonete de fast food. Existem os que vão além. Protegidos por um esquema que envolve a polícia e seguranças, alguns desembolsam altas quantias para que suas esposas se passem por prostitutas, abordando motoristas nas ruas da capital russa. Quando o programa é acertado, eis que surge a polícia para afastar os interessados.

Excentricidade maior, impossível.

O DIA publica entrevista com o secretário de Segurança do Rio


José Mariano Beltrame anuncia que defende o desarmamento dos bombeiros


Adriana Cruz e João Marcello Erthal

Rio - O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, vai entrar na briga pelo desarmamento do Corpo de Bombeiros. A medida tenta não só combater a atuação dos paramilitares, como pede o relatório final da CPI das Milícias, mas também deve funcionar como proteção aos bombeiros, que, sem armas letais, deixariam de ser alvo dos bandidos.

Em entrevista a O DIA, na última quinta-feira, o secretário disse que a polícia tem que mostrar que sabe fazer segurança pública. E isso é o que começa a ocorrer, de forma mais completa, avalia, na ação da PM no Morro Dona Marta, em Botafogo. O projeto de policiamento comunitário que pôs fim ao controle territorial do tráfico de drogas é a nova menina dos olhos do governo do estado. Mas, como cobra Beltrame, é preciso que a sociedade não ponha só nos ombros da polícia o dever de restabelecer a paz nas áreas até então abandonadas pelo Estado. “Não adianta tirar o gatonet e não colocar a TV a cabo formal”, exemplifica, cobrando dos demais poderes uma ação mais efetiva no combate à violência. “O Legislativo não pode prender, mas pode ir para dentro da lei”, sugere, chamando as casas legislativas para a briga na qual está envolvido desde o início do governo Cabral.

—No primeiro ano do atual governo, o discurso foi de enfrentamento. Um ano depois, o Estado anuncia que acabou com o controle territorial do tráfico no Dona Marta. Que avaliação o senhor faz desses dois anos?
—Conseguimos isso no Dona Marta com muita luta e com concurso público. Hoje, temos a garantia de que a Academia, o nosso ‘forno’, não vai parar. Já estamos com concurso para contratar mais quatro mil PMs. Quero até 2010 mais 7 mil. Isso tem que ser permanente. O mesmo acontece com viaturas. A cidade cresce, o número de quilômetros percorridos é maior do que há cinco anos.

—A ocupação do Dona Marta se deu sem tiros. Como isso foi possível?
—A questão do enfrentamento está sedimentada. A polícia tem método para entrar nesses lugares. Não houve tiro porque não precisou. Se precisasse, nós atiraríamos. Acredito que o Dona Marta é uma dívida que a segurança tinha com a sociedade. A polícia tem que mostrar que entende como se faz segurança. Se quisermos fazer isso no resto da cidade, temos o modelo. Mas para fazer na Maré, na Rocinha, temos que ver quanto é preciso em homens, carros, o que traz de custos para o batalhão, estrutura de comunicação.

—Por que não se trabalhou assim antes?
—Precisávamos, primeiro,de uma turma de recrutas. Vamos começar isso com policiais zero quilômetro. Com policiais antigos, poderíamos fazer, mas seria repetir alguns erros. A Cidade de Deus está ocupada, mas não no perfil do Dona Marta. Oitenta por cento dos crimes em Jacarepaguá são de pessoas ligadas à Cidade de Deus. Como não posso ir para cada esquina de Jacarepaguá, vou para a Cidade de Deus. Os índices de criminalidade baixaram. Na Tijuca, não posso fazer isso. São 19 áreas, 19 modelos, com um batalhão. Muita gente. Se vou a um morro, o bandido vai para outro. Ali, tenho que ir aos 19 ao mesmo tempo. Não tem jeito.

—Quando é, então, que a polícia faz segurança pública na sua opinião?
—Quando sabe se comportar, criar uma ambiente para que o cidadão se movimente. E se você quiser botar um restaurante, pode. Este meio é que permite que cheguem outras coisas. E aí é que eu desafio a iniciativa privada, as ONGs. Agora que isso existe, usem. Não adianta tirar o gatonet e não colocar a TV a cabo formal. Mas colocar polícia comunitária no Morro do Alemão, por exemplo, é fazer tiro ao pombo para os traficantes. Porque não existe ainda essa ambiência. Se um morador vai ao orelhão, está sujeito a ser parado por um traficante que pergunta: “Estava falando com quem? O que foi fazer lá?”

—Em relação às milícias, o senhor está satisfeito com as punições dentro das polícias Civil e Militar?
—Estou satisfeito em função das nossas condições. Fazer provas disso não é brincadeira. Se eu olhar para a estrutura da Draco, tenho que ficar satisfeito. Não poderíamos combater todas as milícias, então fomos na mais importante, que assola 1,2 milhão de pessoas com sua tirania. E ela envolve casas legislativas. Não estou satisfeito é com a legislação. E acho que o Legislativo precisa entrar nesta briga. Se as casas legislativas querem ajudar, sejam as municipais, a estadual ou a federal, que legislem sobre isso. Mudem as leis para o servidor. Se eu sou advogado de defesa, hoje, uso a lei ‘ipsis litteris’. Você não pode dar um despacho no meu processo sem me notificar. E notificar já é difícil. O Legislativo não pode prender, mas pode ir para dentro da lei. Nós temos uma Câmara Municipal que não tem, às vésperas de 2009, Código de Ética nem corregedoria.

—Que avaliação o senhor faz do relatório final da CPI das milícias, na Alerj?
—Importante politicamente. Na medida em que o relatório chega a Brasília e movimenta os deputados por lá, temos uma conquista. A milícia tem políticos, logo, tem que ser combatida por policiais, mas tem que ser controlada também por essas lideranças. Está sacramentado no Rio que temos a criminalização da política e a politização do crime. A CPI, sim, pode ajudar. Pode movimentar o Legislativo e a lei.

—O relatório propõe desarmar os bombeiros. O que o senhor pensa a respeito?
— Estou na briga para desarmar os bombeiros. Pelo carinho e estima que tenho por essa instituição, que é a mais querida dessa nação, não apenas do estado. E faço isso para proteger o bombeiro, que se fez no Brasil e no mundo porque salva vidas. Agora, a cultura que se instalou aqui há 50 anos levou o bombeiro para o desvio de conduta, porque ele é caracterizado como polícia.

—O senhor acompanha as ameaças ao deputado Marcelo Freixo?
—Vejo isso de maneira pragmática. A pessoa no Rio que quer, efetivamente, se envolver e mexer nas questões relativas à segurança pública tem que ter a ameaça de morte muito bem assimilada. Não adianta fazer barulho. Eu mesmo estou com 13, 14 ameaças. Agora, se eu quiser ficar falando para a imprensa, dar palestra ou contar casos, vou ficar mais 50 anos fazendo purpurina. E a banda passando...

—O senhor falou da queda dos homicídios. Mas manifestações recentes na praia cobraram a situação dos desaparecimentos. O que o senhor achou dessa cobrança?
—Determinei ao Instituto de Segurança Pública o primeiro estudo sobre desaparecidos. Tem coco lá na praia que eu garanto que está registrado como desaparecido, mas que voltou, que não deram baixa na delegacia. Desaparecido não é morto. É o que eu digo: tem ‘corpo e cruz’ lá que estão em casa. Agora, tem também o desaparecido que é aquele que o tráfico queima lá no microondas.


—A arma longa é um flagelo para o Rio. O senhor não acha que estão faltando ações federais?
—Não tenha dúvida. O que a gente pega aqui de armas utilizadas pelo exército boliviano... Eles já estiveram aqui, propus um convênio. Armas não têm asas. Elas vêm no reboque da droga, do mercado clandestino, que envolve policiais.

—Já houve definição na nova forma de alimentação da PM? O valor virá em contra-cheque ou em tíquete?
—Isso é uma questão que o Sérgio Rui (secretário de Planejamento) vai definir. Mas acredito que vai ser via contra-cheque.

—No ano passado, o senhor disse que o seu dever estaria cumprido se o cidadão andasse mais tranqüilo na rua. O quanto avançou nesse sentido?
—A maior vitória é a autonomia das instituições. É preciso deixar que a polícia ande. É preciso estruturar. Claro que a minha perseguição, o meu anseio é que o cidadão sinta-se mais seguro. Mas tem que recuperar as instituições, os salários.

—Por que as promoções na Polícia Civil demoram?
— Eu tenho que promover delegado de primeira por antigüidade. Mas, por merecimento, eu tenho que esperar abrir vaga. Tem cinco vagas este ano da Polícia Civil para serem promovidos, juntando com as de abril, que não houve. Nós decidimos esperar um pouco porque podia ser que alguém se aposentasse. Pode ser que no fim do ano tenhamos dez vagas por merecimento. As promoções são por antigüidade ou por merecimento. Por exemplo, no caso de delegados de primeira, é provável que só tenham cinco vagas por merecimento e duas ou três por antigüidade. É pouco, não tem cabimento. Agora, tem que fazer o quê? Mudar o regime jurídico. Isso tudo, reafirmo, é lei.

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