O presidente Lula falou agora há pouco em cadeia nacional de rádio e tv para exaltar a força da economia do Brasil, para reafirmar sua crença de que o país continuará crescendo, apesar da crise financeira mundial. Lula garantiu que os investimentos do governo previstos para 2009 não sofrerão nenhum tipo de abalo. O presidente disse ainda que antigamente, crises como a que explodiu nos Estados Unidos a partir de setembro faziam com que a economia do Brasil entrasse em colapso,levando o país a ter de buscar recursos junto ao FMI.
Lula voltou a estimular o consumo, fazendo um apelo para que as pessoas não desistam do sonho de "comprar uma geladeira ou trocar de carro". Segundo ele, essa é a única forma de "fazer girar a roda da economia". Ele garantiu ainda que o país continuará crescendo e que o governo está fazendo todos os esforços para assegurar a estabilidade econômica sem que o país sofra com os efeitos da crise originada nos Estados Unidos.
O presidente elogiou o sistema bancário brasileiro, afirmando que as instituições financeiras estão organizadas. Evitou, no entanto, discorrer sobre a opção em manter elevadas as taxas de juros (Selic) fixadas pelo Conselho de Política Monetária (Copom). Lula destacou as reservas do país em moeda estrangeira, segundo ele, avaliadas em US$ 207 bilhões.
Em seu último pronunciamento do ano em cadeia nacional, Lula procurou passar ao largo das taxas de desemprego, ignorando as dispensas promovidas por empresas como a Vale do Rio Doce, por exemplo, que há duas semanas demitiu 1.300 funcionários por causa do colapso na economia mundial.
22 dezembro 2008
Chico Mendes
MARINA SILVA
Vinte anos sem Chico Mendes, assassinado em Xapuri no dia 22 de dezembro de 1988, aos 44 anos. O país, ainda embalado pela Constituição recém-aprovada, primeira a reconhecer a proteção do meio ambiente como dever do Estado e direito e dever dos cidadãos, via repercutir no mundo inteiro a notícia da morte do seringueiro que ousara liderar um movimento para evitar a destruição da Amazônia.
Nestes vinte anos, expandiu-se muito o espaço das preocupações ambientais no planeta. Hoje, Chico Mendes seria um entre tantos a enfrentar a resistência dos que teimam em esquivar-se de inescapáveis mudanças no estilo de desenvolvimento predador ainda dominante. E por que Chico foi tão especial? Porque se antecipou ao tempo e deu coordenadas, com clareza e simplicidade, para aspirarmos a uma era de maior convergência entre crescimento econômico, justiça social e respeito a limites no uso dos recursos naturais. Porque foi um líder profundamente comprometido com valores e original na ação.
Há quem esteja tão à frente, pela intuição, pela sabedoria, pela capacidade de se ver em muitos, que vai varando o tempo e alcança o futuro no presente. E aqueles que antecipam o tempo nunca o fazem impunemente. Mandela, Ghandi, Luther King pagaram o preço. Chico Mendes também pagou. Parece que essa capacidade antecipatória tem sempre efeito avassalador, tanto para provocar incompreensão quanto para despertar consciências ou, ainda, para abreviar a vida de quem se transforma em antena do mundo e da humanidade.
Chico viveu tudo o que suas circunstâncias permitiram e seus ideais pediram. Tinha uma visão horizontal, inclusiva, quase feminina da política. Preferia a negociação à disputa, a conversa ao conflito, a aliança ao protagonismo exclusivista, mas assumiu radicalmente todas as confrontações necessárias, até a final, com a sua própria morte tão anunciada. E ganhou, sobrevivendo a ela.
Como diz Lacan, o sentido só aparece depois. No caso de Chico, apareceu plenamente após sua morte, porque a antecipação só pode mesmo ser percebida depois. Pessoas como ele são realizadoras de sonhos, de esperança, alimentadoras de novos processos. Se "tudo que é sólido desmancha no ar", elas nos dizem que tudo que é sólido se sustenta nos sonhos.
Quando vivo, acusavam-no de ser contra o desenvolvimento da Amazônia, de fazer "o jogo dos americanos". Hoje, seu discurso é a sustentação para o discurso de todos, sinceros e insinceros, que tentam seguir carreira política, fazer investimentos ou implantar projetos na região.
*Artigo publicado hoje (22/12) na Folha de S. Paulo
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