18 janeiro 2009
O carrasco de Sobibor
CARLOS HEITOR CONY
Mais uma vez, a extradição de um criminoso é negada pelo governo brasileiro, que se mostrou dividido no episódio, com o Itamaraty aprovando a medida e o ministro da Justiça, secundado pelo próprio presidente da República, negando o apelo do governo italiano.
A mídia destacou os inúmeros casos de extradição negados, como o do ladrão inglês Biggs, o da cantora Gloria Trevi, o do ditador paraguaio Stroessner e muitos outros.
Parece que até agora ninguém se lembrou do episódio de maior repercussão internacional, quando três países, Alemanha, Áustria e Israel, pediram a extradição do carrasco de Sobibor, o terrível campo de extermínio na Polônia.
Gustav Franz Wagner morava há tempos em Atibaia, envolveu-se num caso banal, foi detido e negava as acusações. Até que o então delegado Romeu Tuma encontrou alguém que desmascarou o criminoso. Tuma colocou o ex-policial nazista de costas para o escritor Szmajzner, autor de "Inferno em Sobibor", que pronunciou um simples nome: "Gus".
Era o nome pelo qual o guarda do campo era conhecido. Apanhado de surpresa, Wagner olhou para trás e não mais negou ter sido carcereiro em Sobibor -há até um filme americano narrando essa história.
Apesar dos pedidos e da grita internacional, o Brasil negou a extradição e Wagner morreu anos depois, em liberdade. Tratava-se de um criminoso de guerra, citado em centenas de documentos do regime nazista. O crime dele não estava prescrito, mesmo assim o Brasil não atendeu ao pedido dos três país interessados na punição do "açougueiro de Sobibor".
Encarregado de receber os judeus que vinham de diversas partes da Europa, Wagner arrancava crianças do colo das mães e espatifava a cabeça delas num poste.
*Artigo publicado na edição de hoje (18) da Folha de S. Paulo
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