A repercussão de uma eventual fuga de Bolsonaro seria terrível para o Brasil

Muito se debate sobre a necessidade de se manter vigilância externa no condomínio onde mora Bolsonaro, em Brasília, como forma de se evitar uma eventual fuga do ex-presidente às vésperas do início do seu julgamento por tentativa de golpe de Estado. Ouvida, a Procuradoria-Geral da República desaconselhou a utilização de um aparato de vigilância no interior da casa do ex-presidente, mas admitiu que existe sim o risco de fuga. Os procuradores envolvidos na investigação devem ter informações que nós, simples mortais, não dispomos, que justifiquem o temor. Até que ponto é razoável a manutenção de policiais ou agentes penais no interior da casa do ex-mandatário? A defesa de Bolsonaro se apressa em afirmar que a medida é injustificada. O filho mais velho, o senador da República,Flávio Bolsonaro (PL/RJ), classifica a ideia como uma nítida tentativa de humilhar o ex-presidente. Uma coisa é certa. Com a proximidade do início do julgamento que avaliará se Bolsonaro e seus apoiadores mais próximos tentaram dar um golpe de Estado, se avolumam as especulações em torno de um eventual plano de fuga do ex-mandatário. As descobertas recentes feitas pela Polícia Federal não descartam a suspeita. Afinal, foi o próprio Bolsonaro que decidiu, no Carnaval do ano passado, por ocasião da apreensão do seu passaporte, pernoitar por dois dias na Embaixada da Hungria, sabe-se lá por qual motivo. Talvez estivesse convencido de que passaria os dias de folia atrás das grades, o que não aconteceu. Outra descoberta, esta mais recente e de certa forma surpreendente, foi a localização, no aparelho celular de Bolsonaro, de uma espécite de minuta, rascunho de um documento que não se sabe ao certo se chegou a ser enviado, contendo pedido de asilo político endereçado ao governo argentino. A Casa Rosada, sede do governo portenho, jura jamais ter recebido qualquer correspondência nesse sentido, mas de concreto é que a Polícia Federal tem em seu poder um arrazoado que teria como destinatário o líder argentino, Javier Milei. Nele, Bolsonaro apela por abrigo no país vizinho, alegando sofrer perseguição política no Brasil, segundo suas pelavras. De certo é que uma eventual fuga do ex-presidente teria uma enorme repercussão internacional, o que se converteria numa mácula muito grande para o país justamente no momento em que se afunila a cruzada das instituições brasileiras em defesa da democracia. Diferentemente do que ocorreu no século passado, o Brasil tem demonstrado amadurecimento político, que o faz ser citado como exemplo de como os governos devem lidar contra aqueles que decidem se insurgir contra o Estado Democrático de Direito. Que comecem os jogos.