06 novembro 2008

As novas cores da bandeira americana

A euforia que tomou conta do povo americano logo após o anúncio da vitória histórica de Barack Obama nas urnas nos levar a fazer algumas reflexões sobre o que será o governo do senador democrata. Obama tem pela frente problemas de difícil solução. O principal deles, seguramente, é a recente crise econômica que abalou a América, levando seus reflexos para além fronteiras. O déficit público, a retirada das tropas do Iraque e do Afeganistão são alguns deles, para não mencionar a crescente onda de desemprego e a retomada da condução de uma política externa, que privilegie o entendimento, o respeito pela soberania alheia, e que almeje uma aproximação definitiva de Washington com Caracas, com a Coréia do Norte, com o Iran e ainda que reúna esforços para sepultar definitivamente o embargo econômico a Cuba.

Graças ao seu carisma e ao discurso conciliador e desenvolvimentista que buscou imprimir durante a campanha, Obama caiu nas graças do povo. Como bom hawaiano, surfa na esperança do povo de que dias melhores estão por vir. A “Obamania” vivida pela sociedade americana hoje representa, por sua vez, uma tonelada de responsabilidade, que recai sobre o primeiro negro escolhido para comandar os destinos da Casa Branca pelos próximos quatro anos. Com raro desprendimento e naturalidade, Obama desfruta, justificadamente, dos dias de glória, embalado pelo triunfo nas urnas, que muito se deve a uma campanha irrepreensível, que teve o mérito de perceber o sentimento de mudanças reinante na sociedade americana.

Carismático, cerebral, feito de carne e osso. Foi assim que o senador democrata procurou se apresentar ao eleitorado americano, ao mundo, construindo sua imagem tijolo a tijolo e levando adiante sua disposição de superar cada um dos obstáculos à sua frente. O primeiro desafio, sem dúvida, foi o de desconstruir o preconceito quanto à cor de sua pele. Um presidente negro comandando os destinos dos Estados Unidos era algo impensável há 40 anos atrás. Obama então deparou-se com a disputa interna no partido contra a até então favorita colega de Senado e ex-primeira dama, Hillary Clinton.

Obama se superou no desafio de afirmar seu nome não só internamente, mas também fora dos Estados Unidos. Impressionam no You Tube as imagens da multidão, em julho passado, junto ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, a acompanhar atenta, boquiabeta, como se não acreditasse naquilo que estava vendo e ouvindo, por ocasião do histórico discurso feito por Obama. O povo alemão que testemunhou os horrores do nazismo e a queda do muro, símbolo da intolerância, curvou-se ao carisma do ícone da liberdade. O discurso na capital alemã marcou o avanço de Barack Obama rumo à conquista dos corações e mentes dos principais líderes do Velho Mundo.

No plano interno, Obama se mostrou perseverante, conquistando aliados, sensibilizando gente humilde e celebridades. Imprimiu um jeito diferente, pessoal de pedir voto. Durante a campanha, diariamente, reservava uma hora para, pessoalmente, telefonar para os eleitores, para pedir um voto de confiança. Acabou atendido.

Obama agora tem como missão resgatar o sentimento de orgulho do american citizen. Repousa sobre sua mesa o compromisso de trazer de volta para casa os milhares de jovens americanos que estão em combate no Iraque e no Afeganistão e que custam a entender o porquê de estarem longe de casa tanto tempo. Terá o presidente eleito que se desdobrar para definir o futuro dos presos que definham encarcerados na prisão de Guantánamo.

O apoio em torno do nome de Barack Obama é do tamanho do país que irá governar a partir de 20 de janeiro próximo. Por outro lado, os desafios que terá de enfrentar não são menores do que o verde de esperança que fez ressuscitar e que agora se junta ao azul, vermelho e branco da bandeira americana.

Um comentário:

Senna disse...

Renato, meu caro, realmente foi uma vitória retumbante, que muda o curso da história. Tem o efeito da eleição de Lula, o operário, o não-letrado, o cidadão que não nasceu em berço esplêndido, o sapo barbudo, enfiado goela a dentro da nojenta e preconceituosa elite brasileira.
Não devemos esperar o mundo seja outro após 20 de janeiro. O significado da escolha de Obama é mais importante do que seus primeiros atos. Afinal, o vergonhoso e impediedo complexo político-militar que paira sobre os americanos não vai mudar de uma hora para outra. Mas com Obama chega a esperança. É o começo do fim do império. Todos eles caem um dia, como mostra a história. Obama traz esperança aos cidadãos do mundo, até então considerados de segunda classe, pela banda podre de Bush e seu bando.

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