Aprovação recorde
Com a situação da economia ainda a favor, popularidade de Lula se estende por todos os setores da população
Já teve melhores dias a idéia de que o Brasil não seria afetado pela crise mundial.
Ainda há, por certo, quem mencione um suposto "descolamento" entre as turbulências de Wall Street e o ritmo da atividade nos países emergentes. Como a maioria dos prognósticos econômicos, todavia, a tese se torna objeto de revisões diversas, até decompor-se em sutilezas interpretativas e fumaças semânticas.
Seja como for, a metáfora do "descolamento" se aplica, de várias formas, aos extraordinários índices de popularidade alcançados pelo presidente Lula.
Os números da última pesquisa Datafolha, divulgados na edição de ontem, marcam um novo recorde histórico em levantamentos desse tipo.
Chega a 70% a proporção dos que consideram "ótimo" ou "bom" o governo Lula. Há menos de dois meses, quando eram menores as preocupações com os efeitos domésticos da crise financeira, o índice era de 64%.
De março do ano passado até agora, o panorama econômico não conheceu alterações profundas -mas a aprovação de Lula subiu 22 pontos porcentuais.
É certo que o resultado tem relação direta com o bom desempenho da economia brasileira nos últimos tempos. Inflação baixa e razoáveis índices de crescimento parecem gerar um efeito cumulativo, que situa o presidente a uma distância mais do que confortável na comparação com seus antecessores.
A melhor avaliação obtida por Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, limitou-se aos 47% de entrevistados que classificaram de "ótimo" ou "bom" seu desempenho, em fins de 1996.
A popularidade de Lula não apenas parece "descolar-se" da média dos demais presidentes, como também deixa de se vincular a setores sociais determinados. Perde força, na nova pesquisa, a idéia de que o apoio ao governo estava destinado a concentrar-se nas faixas de menor renda e de baixa escolaridade.
De setembro para cá, subiu nove pontos, atingindo 64%, a aprovação de Lula entre os cidadãos com nível universitário.
Nos entrevistados com renda superior a 10 salários mínimos, 63% consideram o governo "ótimo" ou "bom". O índice não destoa exageradamente daquele registrado entre os mais pobres: 71%, na faixa dos que recebem menos de 5 salários mínimos.
Cabe lembrar, por fim, que a imagem do presidente também se "descolou" das indefinições administrativas e dos escândalos à sua volta.
Descola-se, até, das impropriedades memoráveis que pontuam sua passagem pelo cargo. A última, aliás, constitui um pequeno recorde no gênero.
Lula considerou que na crise econômica importa fazer como o médico, diante de um paciente grave. "O que você fala? Dos avanços da medicina ou olha para ele e diz sifu?"
Sendo o médico quem é, melhor seria se não falasse nada. De resto, o paciente até que não se queixa; enquanto vai bem de saúde, é natural que o desempenho do médico não lhe inspire maiores críticas.
*Editorial da Folha de S. Paulo publicado no dia 06/12/2008
06 dezembro 2008
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